O que eu preciso.

Hoje eu percebi que meus pensamentos sobre não ser boa o suficiente em nada não poderiam ser mais falsos. 

Existe uma habilidade em que sou exímia. Impecável e implacável.

Sou realmente boa em decepcionar as pessoas. As vezes eu nem estava tentando. Quase sempre não estou tentando, mas talento é talento.

Calma, esse não é um texto de autocomizeração, eu sou bem ruim nisso, não conseguiria.

Se eu disser que isso não me afeta, estaria mentindo, e também sou péssima em mentir.

Na verdade, eu sempre quis, acima de qualquer coisa, ser amada e aceita. Tentei me ajustar incansavelmente a diversos modelos de comportamento, relacionamento, profissão e fé. Tudo isso em busca da validação de qualquer pessoa que estivesse por perto.

Projetei essa necessidade nos meus pais, nos líderes da igreja, nas minhas chefes, no meu marido.

Eu só queria ser amada. Só queria ser aceita.

Mas meu talento pra decepcionar as pessoas supera qualquer expectativa.

Nunca senti que era uma boa filha.

Não tirava notas que fossem motivo de orgulho na escola. Fui bem comportada, é verdade. Casei virgem.

Mesmo assim, sempre senti um ar de decepção, sobretudo da minha mãe.

Fui uma péssima crente. Sinto que meus líderes na real tinham medo de mim. Eu não era boa em nada do que eles queriam que eu fosse, e no que eu real realmente boa, bom, não era o que eu deveria fazer, por algum motivo.

Questionadora pra caramba, eu era a garota problema na igreja. Perseguida pela treta, mesmo quando eu jurava que estava fazendo tudo certo.

Saí da igreja, me emancipei, virei feminista.

Pfff...

A pior feminista de quem você já ouviu falar, se é que ouviu.

Não foi só uma vez que recebi mensagens de mulheres dizendo que estavam decepcionadas com meus posicionamentos.

Entrei numa coletiva pra provar meu valor, e nunca me senti tão deslocada em toda minha minha vida. 

Me sentia frustrada por não ser amante dos PDF's. Infelizmente tenho limitações que me impedem de ser a estudiosa dos assuntos que eu gostaria.

Percebi que o movimento feminista não era o meu lugar, e mais inbox. Que decepção hein?

Quando comecei a abraçar a descrença, notei o quanto preciso manter uma vida de oração e meditação pra me manter sã.

Se não crer em nada é a sina das pessoas inteligentes e racionais, eu falhei também. Não consigo não crer. Tentei, tentei muito. Eu juro.

Mas a minha fé também não se ajusta à que eu aprendi desde pequena.

Putz...

Nunca consegui ter um emprego fixo por muito tempo. É simplesmente demais pra mim. Bater ponto me mata aos poucos, me ataca o intestino, me deixa a semana inteira sem ir ao banheiro.

Mulher independente também não consegui ser. Especialmente agora, que sou mãe, depende de redes de apoio, não só por causa dos cuidados com a bebê, mas sobretudo de afeto. 

Eu preciso de carinho e afeto. Preciso ser amada e aceita. Não sou autossuficiente como eu gostaria. Preciso de ajuda, preciso demais!

Escrevi isso só pra deixar registrado que depois de 27 anos e alguns meses, no meio de uma pandemia global e do governo de um genocida, eu descobri que não consigo.

Eu preciso de pessoas. Preciso sentir que tudo tem um propósito. Preciso amar e ser amada. Mesmo que por um ser invisível.

Desculpa te decepcionar novamente.

Mas é só o que eu consegui ser. E eu tô me sentindo bem mais feliz que nas últimas semanas. Ainda angustiada, mas muito mais feliz.




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